quinta-feira, 25 de abril de 2013

Entrevista - Hanna Hadara

Ehhhhhh e vamos a mais uma entrevista LUXO. 
Ah Hanna foi uma estrela que me ajudou muito e continua me ajudando desde quando me mudei para São Paulo. Eu só tenho que agradecer ao universo por me permitir encontrar pessoas tão maravilhosas.
Com você um pouco de quem é Hanna Hadara: Bailarina, coreógrafa, professora e atriz, Hanna estuda a Dança Oriental Árabe desde 1998 com grandes nomes da dança do ventre. Formada em Ballet Clássico é também pós-graduada em Dança e Consciência Corporal. Além das aulas e das apresentações de dança que faz regularmente, é também diretora e coreógrafa da Al Qamar Cia de Danças, formada por um Corpo de Baile de 10 integrantes.
A Cia faz apresentações em teatros, festivais de danças, casas de espetáculos e encena montagens anuais intituladas por Sarau de Dança Teatro.

01- Quando você começou o que lhe chamou atenção e fez seu interesse pela dança do ventre crescer?
De imediato, o que mais me chamou a atenção pela dança do ventre foi a minha primeira professora, a bailarina Tatiana Turteli. Ela é lindíssima e via aquela figura fazendo os movimentos da dança, super feminina e misteriosa, eu queria ser como ela. Mas o que fez o meu interesse na dança crescer foi sem sombra de dúvidas o upgrade que ela causou na vida num momento em que estava em transformação, iniciando a minha fase adulta. Eu me sentia mais segura, mais bonita, mais mulher, mais desejada e admirada. O ponto ápice dessa mudança foi quando eu realmente decidi que queria viver dando aulas, assim como aquela minha professora que eu tanto admirava. Eu me lembro muito desse meu desejo, do dia em que pensei nisso de forma profunda, só não sabia para onde a dança me levaria. Para mim, naquele momento, ser a professora na sala de aula era tudo o que eu queria, o meu sonho de consumo.

02- Conte nos como foi no início. Você teve alguma dificuldade? Como conseguiu superá-la?
Dificuldades sempre existiram (existem e existirão sempre), mas nada que me faça desistir do meu desejo, da minha missão nessa vida. Se o caminho estava completamente bloqueado, eu nem perdia tempo em tentar passar por ali, tratava logo de buscar outra trilha, ou melhor, inventava a minha própria, uma por onde nunca ninguém tivesse passado antes, afinal, gosto de ser diferente. É isso!!! Sempre procurei abrir meus caminhos, sou muito ansiosa, sou ariana, não gosto de esperar e vou logo tentando uma nova alternativa, sou impulsiva e isso me ajudou muito em não ficar parada esperando a dificuldade passar ou alguém vir ajudar, eu simplesmente eliminava a dificuldade.

É claro que muitas vezes agi sem pensar (por pura impulsividade) e me dei muito mal, mas também não ficava lá curtindo a “fossa” e me culpando, me torturando, já partia para uma próxima possibilidade e assim fui superando as dificuldades que surgiam, uma a uma. E é assim até hoje!!! Uma boa definição de como eu superei as maiores delas, é que eu não as via tão grandes assim, não as alimentava e não dava tanta importância. Creio que isso facilitou muito para eu sair do foco do que não estava dando certo e me sobrava tempo e energia para encontrar logo uma solução.
Mas a maior delas foi, sem dúvida, me libertar da “normalidade”, de ter uma profissão “normal”, num horário “normal” (com carteira registrada), ser uma pessoa “normal”, conversar de coisas “normais”, etc.. E eu só consegui o que eu sempre desejei, quando assumi para mim mesma que não sou uma pessoa dita “normal”!!! Quem me ajudou nisso? Uma grande amiga e aluna minha há 12 anos, Ana Paula Maluf, que nunca sequer me cobrou uma sessão de terapia!!! A ela, minha eterna gratidão!!!

03- Fale um pouco sobre sua trajetória. Quem foram as pessoas que te ajudaram nessa caminhada?
Bom, já citei uma, né!!!
Minha primeira lembrança como artista é no quintal da minha casa em Santa Cruz do Rio Pardo, no interior de São Paulo. Eu tinha uns 4 anos, e a plena convicção de que era a Emília do Sítio do Pica Pau Amarelo. Eu achava que era só entrar atrás da televisão (que tinha um tubo) e que seria uma artista. Assistia ao Sítio e apresentava minha performance Emília para os meus pais quando eles voltavam do trabalho, no fim do dia. Depois vieram Branca de Neve (minha favorita) e todas as coitadas dos contos de fadas. Armando e Cida (meus pais) foram e são meus maiores incentivadores. 

Aos 8 ou 9 anos pedi e ganhei uma fita K7 da Madonna e a  primeira coreografia que montei foi com a música Dress you up, desse álbum. Apresentei em parceria com minha melhor amiga do colégio na época, a Mirelle, num desfile de modas da cidade. O interessante é que tive a valiosa ajuda da minha irmã Jô, quem me apresentou pela primeira vez a existência da famosa contagem coreográfica de 8 tempos, que até então eu não fazia a menor ideia que existia.  
Depois disso, me colocaram nas aulas de Ballet Clássico na Sport Center Academia da diretora Guiomar, e foi ali onde me tive meu primeiro contato com a dança acadêmica. Fiz Ballet, Jazz, Afro-Jazz, Lambada, Aeróbica. Aos 13 anos ganhei minha primeira turminha de baby class, adorava dar aulas para as crianças, e lá permaneci até que a academia fechou e eu parei com as aulas, mas não com a dança.

Quando me mudei para Bauru, cidade onde cursei a faculdade de Artes Cências, fui logo atrás de uma academia de danças para continuar meus estudos e encontrei a Sigma Academia. Meu sonho era fazer Dança Flamenca e lá tinha!!! Fazia Flamenco já há 2 anos mas era sempre incentivada a fazer Dança do Ventre pela Valéria, mãe da minha professora. Um belo dia me rendi e fui experimentar. Aí, já sabem né, o bichinho me picou!!!
Contei aos meus pais que estava apaixonada pela tal da dança do ventre e eles me presentearam, no retorno de uma viagem, com um DVD da Claudia Cenci. “Comi com farinha” aquele único DVD que tinha, até decorei algumas falas dela e comecei a dar aulas na minha cidade natal para um pequeno grupo de amigas.

A Tati (minha professora) me incentivava muito, ela passou na 1ª Pré-Seleção da Khan El Khlaili e veio morar em São Paulo. Assumi algumas turmas dela e foi assim que comecei a dar aulas de Dança do Ventre, ainda no interior e com muito pouco conhecimento do universo bellydance.
Resolvi então vir me aperfeiçoar em São Paulo e, quando vinha, fazia praticamente todas as aulas do dia na KK, fiz aulas com Soraia Zaied, Shahar Badri, Yasmin Namu, Shams, Fátima Fontes. Queria muito conhecer a Lulu e fazer aulas com ela, mas só consegui quando me formei e vim morar em São Paulo, em 1 de agosto de 2000.

Gonçalo e Sílvia foi o casal que me acolheu no porão de sua casa durante os meus 3 primeiros anos em São Paulo e a eles também sou muitíssimo grata. Eles me apresentaram a cidade, amigos maravilhosos, sempre envolvidos com a arte e a cultura, e isso muito me acrescentou.

Logo que cheguei já espalhei currículos e fui montando minha grade de aulas em vários lugares na cidade, não fiquei uma semana sequer sem trabalho.  Em 2001 produzi e apresentei o I Sarau de Danças Orientais Árabes, já pela Cia Al Qamar e dali não parei mais, nem nos estudos, nem na profissão.
Em 2006, decidi “largar” todos os vários trabalhos em diversos pontos da cidade e finalmente montar meu próprio estúdio. Iniciei também minha pós-graduação em Dança e quem assinou meu estágio foi a própria Lulu, que na época já era minha professora há mais de 3 anos. Cumpri meu estágio no último ano da escola dela dentro da Khan El Khalili.

A vida me presenteou também com meu grande e futuro incentivador profissional, marido e parceiro de vida, André. Aqui aconteceu o divisor de águas da minha carreira e agradeço diariamente a ele, a todas as alunas que passaram por mim, a todos os amigos e pela minha família por acreditarem na minha arte e por estarem sempre ao meu lado nessa profissão não “normal” que é a da bailarina de dança do ventre.

04- Quando e o que fez você perceber que a dança estava se tornando sua profissão?
Não sei responder com exatidão pois a dança, o teatro e a arte em geral sempre se fizeram muito presentes na minha vida, mas creio que o momento marco foi no penúltimo ano de faculdade, quando eu já estava bastante envolvida dando aulas de dança do ventre, fazendo shows, vindo a São Paulo regularmente me aperfeiçoar, etc.

05- Você tem outra profissão/formação? Consegue conciliar ambas?
Sou atriz de formação, já fiz teatro e algumas pontas em novelas, mas não atuo na área. Minha profissão mesmo é dar aulas de dança do ventre e fazer shows, é assim que ganho o meu sustento e sou feliz.

É claro que hoje, sendo proprietária de uma academia de danças, tenho outras responsabilidades e que em alguns momentos me tiram o foco do meu ofício principal que é dar aulas. Mas nada que me atrapalhe, pois como disse, logo já arrumo um jeito de seguir outro caminho e voltar para o que realmente desejo.

06- Conte como organiza sua rotina de estudos, para continuar se aprimorando profissionalmente.
Então, como já disse, a partir do momento que assumi para mim que não sou uma pessoa “normal”, com uma profissão “normal”, deixei de ter que cumprir uma rotina “normal” de estudos e aperfeiçoamento. E isso não quer dizer que eu não estude!!!

Sou extremamente apaixonada pelo que faço e por isso estudo sem querer, sem pensar que estou estudando, sem ter um horário fixo para isso. Por exemplo, se estou caminhando no shopping, posso estar ouvindo as músicas que vou dançar nos próximos shows ou as que vou usar na aula que ministrarei dali uma hora.

Quero dizer que não monto uma rotina, mas estudo e MUUUUUITO diariamente, mas é sem programação. O interesse por uma boa leitura, por ouvir músicas árabes, por assistir a vídeos de dança, por treinar os passos e fazer exercícios que auxiliam os movimentos, são momentos espontâneos, que acontecem várias vezes ao dia, mas sem horário fixo, sem programação fixa.
Hoje por exemplo, assisti pela milésima vez as peformances da bailarina Fifi Abdo; tive meu momento leitura e acabei separando mais 4 exercícios de alongamento de quadril e pernas para aplicar em minhas aulas; desenhei mais um figurino para minhas alunas; montei mais 1 minuto de uma coreografia que estou trabalhando em aula; estudei os exercícios que minha professora passou na última aula; dei 3aulas maravilhosas e continuo aqui respirando dança do ventre, respondendo a essa entrevista.

Ou seja, não tenho e nem crio uma rotina de estudos, pois para mim não funciona. Vou montando meu dia de acordo com o tempo que tenho, com a necessidade do momento e também com o meu querer. O fato é que acabo estudando um pouco de tudo todos os dias!!!
O que eu faço mais próximo de uma rotina é traçar objetivos para o meu ano, semestre ou mês. Atualmente faço aulas regulares semanalmente na turma de profissionais da Lulu, aulas particulares com a bailarina Nur, terminei o curso de direção artística módulo I com o Jorge e mês que vem já inicio o módulo II, fiz algumas aulas avulsas com a bailarina Mahaila, dou aulas e danço diariamente.
Além disso, tenho uma vasta biblioteca e amo consultar meus livros; frequento cinema, teatro, galeria de artes, shows musicais, espetáculos e shows de dança, e tudo o que faço no meu dia a dia acabo, sem querer, transportando em algum benefício para a minha profissão e isso é estar em constante aperfeiçoamento.


07- Você buscou outras danças ou exercícios físicos para ajudar a melhorar a sua dança?
Não busquei, mas por afinidade, pratico. Ballet, yoga, pilates, alongamento, expressão corporal, a pista de dança e as infinitas caminhadas no Bom Retiro em busca de tecidos também ajudam a manter a forma e colaboram na melhoria da performance!!!!

Mas sinceramente, na minha opinião, uma dança do ventre bem feita, com prática regular no mínimo 2 vezes na semana, com uma profissional que tenha conhecimento de outras áreas das artes do corpo (como essas citadas acima), já bastam para a manutenção de um físico sadio e de uma bela performance em dança.

08- Tem algum fato que marcou sua trajetória na dança?
Minha mudança de residência para São Paulo há quase 13 anos foi um grande marco para alavancar minha carreira, mas como já disse, o grande divisor de águas foi quando me libertei de mim mesma e assumi que sou uma artista, uma profissional da dança e feliz da vida por ter sido abençoada com esse dom.

09- Para você qual qualidade é necessária para quem dança e quer se profissionalizar?
Sem dúvida nenhuma é assumir para si que tem o DOM , acreditar nele e focar na sua escolha!!!! Outras qualidades não só para entrar na carreira, mas também para manter-se nela são: honestidade, humildade, perseverança, parceria e flexibilidade.

10- Para você padrões de qualidade são importantes? O que você acha que muda para a bailarina?
Depende da importância que você dá para eles!!! Eu, por exemplo, já desejei ter alguns padrões e fui atrás deles. Naqueles momentos eles me foram importantes, me fizeram a diferença, mas nunca desejei ser um padrão, pelo contrário, adoro ser e estar “fora dos padões”, como já disse, gosto mesmo é de fazer a diferença.

 Para mim, a mudança é interna e a pessoa que precisa dessa “prova” para assumir seu dom é porque não o tem na verdade, ela não é uma bailarina e sim uma competidora. Acredito que medalhas e troféus fazem parte da vida de esportistas e não de artistas.

Mas não quero ser hipócrita em dizer que padrões, selos e medalhas não modificam externamente a vida da bailarina. Isso acontece sim e muuuito!!! Ela ganha visibilidade, publicidade “gratuita”, seguidores em redes sociais, convites para shows, workshops e eventos, melhorias em suas carreiras, etc.

11- Sabemos que atualmente nós mulheres temos que nos desdobrar em muitas. Como é para você conciliar todas essas funções de professora, bailarina, empresária,  esposa e filha?
Não sou empresária, sou empreendedora e adoro deixar isso muito claro!!! Não nasci com o dom de empresariar e sim de empreender dentro daquilo que tenho como vocação.

Creio que cumpro bonitinho os meus papéis na sociedade e me sinto satisfeita. Preservo muito minha vida pessoal, tiro pelo menos um período do dia para cuidar de mim, da minha casa, do meu jardim, do meu marido, cachorro, família, etc. Claro que aos finais de semana estou sempre trabalhando mas procuro compensar ao máximo nos outros dias.

O difícil é ficar longe dos amigos, não consigo vê-los e curtí-los como gostaria e isso faz a maior falta!!! Esse é o lado mais chato de não ter um horário de trabalho “normal”, adoraria, por exemplo, fazer um piquenique no parque com os amigos, mas todos trabalham na 2ª feira de manhã, quando estou de folga.
Mas não me queixo, só sinto falta!!!! Quando posso também, me esbaldo, aproveito cada momento e amigo que é amigo de verdade, não reclama de você estar ausente com frequência e sim aproveita quando você está lá ao lado dele.

12- Agradeço por participar da entrevista. Fique à vontade para falar o que quiser.
Gisele querida, eu é que te agradeço pela oportunidade de me comunicar um pouquinho mais com o público da dança do ventre, seu blog é um sucesso e foi um prazer imenso participar dessa entrevista!! Adorei!!! Saiba que torço muito por você!!!!
Desejo que os Deuses iluminem os caminhos e a dança de cada um que passar por aqui. Beijos n´alma, com todo o meu carinho!!!

“ A Dança do Ventre alimenta a feminilidade e equilibra corpo/mente/alma”
Hanna Hadara


Hanna Hadara - www.alqamar.com.br

Também publicado no Central Dança do Ventre

Um comentário:

  1. Obrigada Gi, por permitir compartilhar um pouquinho da minha história na arte da Dança do Ventre!!! Adorei!!!!

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